terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A fuga de S. José

A 7 de Dezembro deslocámo-nos a Sesimbra para contar uma história. Com temática óbvia nesta quadra, o Natal. Através da contadora de histórias fizemos conviver Brueguel e informática.

Contámos um menino e as suas vivências no Renascimento pedindo emprestado os pincéis a Brueguel através do quadro “Jogos de Crianças”. É um projecto que temos na “Cronoscafo”: Quadros Contados. Bem mas não sobre isso que queria escrever. Quem quiser saber mais sobre o projecto pode ver aqui.

Em Sesimbra e com fundo de quadros tínhamos evidentemente que visitar o núcleo de Arte Sacra instalado na Capela do Espírito Santo dos Mareantes. Está magnificamente estudado, publicado e exposto. Um trabalho de fazer inveja a muitos municípios que não sabem tratar assim a sua história.

Das obras expostas houve uma que me chamou particularmente a atenção.

Talvez por estarmos na quadra Natalícia.

Talvez por ser obra de um pintor recentemente “descoberto”.

Geraldo Fernandes do Prado, pintor maneirista do séc. XVI, cavaleiro da Casa de Bragança, tem diversas obras atribuídas nomeadamente em Vilar de Frades, Vila Viçosa, Almada e Sesimbra.

Já na época a malta das Artes tinha que viajar bastante para ganhar a vida...

Foi-nos revelado por um estudo de Vítor Serrão.

Para Sesimbra este maneirista pintou uma adoração dos Magos.

Como toda a gente sabe representa a altura em que os três homens sábios chegam finalmente ao estábulo onde nasceu Cristo, depois de muitos meses atrás “da estrela”, um cometa que decidiram seguir pois sabiam que algo extraordinário teria acontecido para ocasionar tão importante fenómeno celeste.

A iconografia representada é a usual, já standartizada uns séculos antes. Faltam o burro e a vaca (em todos os outros países dizem que é um boi, mas nós insistimos na vaca.)

Maria, sentada com o Cristo ao colo recebe os três Magos, nesta época já representando reis e raças aos pés de Jesus Salvador, cuja igreja iria reinar sobre as 3 civilizações que eles representam:

- Belchior vem da Pérsia trazendo ouro.

- Baltazar vem da Índia com incenso.

- Gaspar vem da Arábia para ofertar mirra.

O outro personagem usualmente representado é José. Reparem na direita do quadro.

Nunca vi um José assim.

Sempre um personagem de segundo plano, é certo.

Durante a Idade Média foi utilizado como ícone para afirmar ou reafirmar a origem divina de Cristo. Representado de quadro em quadro como um homem cada vez mais velho para demonstrar a impossibilidade de ser fértil, de ser pai. Nas representações teatrais medievais da Natividade, era alvo de chacota do povo que assistia e que o distinguia com epítetos pouco dignificantes. Ordinários até. De tal maneira que as representações foram proibidas pelo topo da hierarquia religiosa até serem reactivados por S. Francisco, que para o fazer teve que pedir uma autorização especial.

Por isso é natural que José seja representado discreto, apagado, envergonhado.

Mas neste quadro o coitado vai nitidamente a fugir.




sábado, 13 de dezembro de 2008

O Bilhete de Autocarro

Outra gare. Outra espera. Mais um autocarro. Idas e vindas com alfinetes que marcam pontos no mapa.

Tempos de espera a que nunca me hei-de habituar.

Numa viagem fazem parte do tempo.

Nas deslocações, quando o que interessa é chegar no horário da agenda, são quase insuportáveis.

Entre a reunião de trabalho que se deixou e o atelier onde nos esperam os instrumentos para desenvolver as tarefas, o cérebro está ocupado, ansioso; as mãos num frenesim de ócio, quase com espasmos.

Fazem-se rolinhos com o bilhete, ou outras coisa...